A noite não era tão quente como ele esperava. Os programas na televisão se esgotaram, o rádio queimou e a internet nem existia naquele tempo. O silêncio tomava conta do rancho e tudo que tinha era uma cerveja barata, um ''masso'' de cigarro, um papel, várias canetas e diversas idéias.
Ao som de Janis Joplin ele viajava tão perto e distante ao mesmo tempo. Sabia que durante o dia era jornalista, sociólogo(?), historiador(?) e tudo mais que fosse fundamental para a sociedade. Pra ser mais específico, sua importância cotidiana estava em ajudar a manter a vila em que morava. Digamos que o incômodo era pela falta de grana, pela insatisfação com o presente, com o sonhado futuro e um passado revoltante. Queria mesmo é viver, mas as preocupações diárias e noturnas as preocupavam.
E como viver tranquilamente se tinha que se preocupar com a política, com as notícias que aconteciam a cada momento, com os fatos, com os bandidos e ladrões de galinha!? Nem mesmo o som viajado de Joplin o convencia de que a vida poderia ser ''vivida'' de qualquer outra forma. O ponteiro no relógio tocava, somente a luz da varanda estava acesa e o cavalo fazia algum barulho no gramado.
Não tinha mais certeza de nada e pouco se interessava pelo o que poderia acontecer lá na frente. O segredo... O segredo era a paciência, talvez, a não desistência. Afinal, passou a infância e a adolescência ouvindo dizer que a vida era feita de amor. E isso era o que menos encontrava quando adulto.
A luta era sobreviver o dia, não o mês, não o ano e nem a década. Por sinal, cada dia era uma vitória, um sinal de que nada estava perdido. Mesmo que as manchetes fossem repetidas quase todos os dias ele acreditava que nenhum dia era como o outro. A única certeza que tinha é que as datas comemorativas não faziam diferenças, pois nada mudaria se hoje fosse carnaval, amanhã independência do país e logo depois o natal.
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