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- Particularmente, fazer postagem em blog é algo sério e interessante para o meu aprendizado. Por mais que o texto seja meramente um ''bom dia'' ou ''faz calor lá fora'', quero dizer que tudo têm um valor. É aqui que aprendo, erro e acerto. Gosto muito do meu blog, das postagens feitas desde o início e espero que você, leitor, encontre alguma coisa útil que lhe faça comentar ou criticar. Críticas (positivas ou negativas) são sempre aceitas e compreendidas. Pois, diga-se de passagem, é sempre bom ter um espaço pessoal e, supostamente, democrático.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Leitura, Educação e ''Interdisciplinaridade''


A educação ainda é hoje um dos maiores problemas em diversos países, principalmente quando consideramos os mais pobres ou em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Apresentar a educação e o ensino de má qualidade como uma das principais barreiras para o desenvolvimento e crescimento cultural de uma sociedade é inevitável, mas exige análises profundas e diversificadas sobre um processo de base e poder.

Ter como conclusão o fato de que o modelo educacional apresenta algo errado e se manifeste como ensino de baixa qualidade e inferior em relação à educação trabalhada nos países desenvolvidos, é preciso compreender os mais simples aspectos que formam o processo educacional, de conhecimento, de aprendizagem e contextualização da realidade.  
Entre os aspectos que constituem essa fase necessária para a formação de cada um de nós – de preferência na infância – percebe-se o modo em que, através deles, se da o ensino da leitura, a visão que alunos, professores e pais de determinada classe social criam sobre ela, como entendem o porquê de se aprender a ler, como ela - a leitura - é estabelecida no nosso modelo de sociedade. 
A concretização de uma prática que aparentemente se mostra simples, fácil e eficaz para adquirir conhecimento e resolver problemas diretos de pessoas que querem um futuro digno, nem sempre ocorre como o desejado. 

Sim, porque a leitura ainda não é colocada de acordo com sua real função cultural e social, entretanto, na maior parte da população encontramos esta como fonte e meio de perspectiva para uma vida melhor, como caminho para conseguir um bom trabalho e, quem sabe, fazer uma faculdade. 
Magda Becker Soares (UFMG) em “Perspectivas Interdisciplinares” de Regina Zilberman e Ezequiel Theodoro da Silva, destaca a real situação de relação da leitura entre as classes dominantes e dominadas: 

“Pesquisas já demonstraram que, enquanto as classes dominantes vêem a leitura como fruição, lazer, ampliação de horizontes, de conhecimentos, de experiência, as classes dominadas a vêem pragmaticamente como instrumento necessário à sobrevivência, ao acesso ao mundo do trabalho, à luta contra suas condições de vida”. (p.21) 

Para essas pessoas, dominadas econômico, ideológico, cultural e socialmente, ler não significa ainda diferente forma de expressão e comunicação. Pelo contrário, implica em obrigação, cobrança, necessidade e exigência da vida cotidiana e do nosso sistema capitalista para ‘’se dar bem e ser alguém na vida’’. Parece em algum momento assustador, mas essa é a realidade de valor que milhares de brasileiros - funcionalmente analfabetos - atribuem à leitura. 
Entender o que contribui para que tenhamos pessoas com uma visão distorcida e errônea da prática de ler, implica em outras modalidades do velho e atual modelo de ensino aplicado em escolas e métodos educacionais espalhados pelo país. 
O equívoco que ocorre ao considerar leitura e metodologia de ensino como uma só coisa, contribui cada vez mais para que as correntes de combate ao crescimento de leitores na sociedade se multipliquem, conquistem espaço e mantenham indivíduos que saibam ler, mas tão pouco compreendam o que lêem. 
Ainda em Perspectivas Interdisciplinares, outro autor, Mário A. Perini (UFMG) também ressalta os problemas enfrentados por uma pessoa adulta que aprendeu a ler, mas pouco compreende a leitura em sua interação, contextualização e prática interdisciplinar. 

“... A maior parte da população brasileira adulta é funcionalmente analfabeta. Quero dizer que, se bem que sejam capazes de assinar o nome e de decifrar o letreiro do ônibus que tomam diariamente, não conseguiriam ler com compreensão adequada uma página completa, ainda que se tratasse de assunto dentro da sua competência. Nesta sociedade em constante transformação, o analfabeto funcional é uma criatura singularmente indefesa. Está impedido, por exemplo, de se informar e de formar sua opinião sobre uma gama sempre crescente do assuntos’’. (p.78)

Hoje, mesmo que seja problemático o fato de a leitura ser algo consideravelmente isolado e solitário, pode-se dizer que já não é mais um problema único ou o principal entre todos. Com o avanço tecnológico, por exemplo, a leitura passa a concorrer igualmente com os diversos meios de comunicação e informação, principalmente com aqueles que trabalham com os recursos de sons e imagens.
Quanto à questão de isolamento que se atribui à leitura, é notável o porquê de tal situação entre texto e leitor. Isolar a leitura é entendê-la como por si só. É se ausentar do contexto e não interliga-la à realidade do decodificador da mensagem, do destinatário que lê o que está escrito. Em específico, se esquece que além de ser um modo diferenciado de expressão, a leitura atua como meio de conscientização e transformação pessoal e social. 
Em Perspectivas Interdisciplinares, coletânea de Regina Zilberman e Ezequiel Theodoro da Silva, a autora Magda Becker Soares (UFMG) destaca também o isolamento como uma condição imprópria para o ato de ler. Questionando sobre ser ou não ser a leitura um ato solitário, ela responde: 

“Não. Leitura não é esse ato solitário; é interação verbal entre indivíduos, e indivíduos socialmente determinados: o leitor, seu universo, seu lugar na estrutura social, suas relações com o mundo e com os outros; o autor, seu universo, seu lugar na estrutura social, suas relações com o mundo e os outros; entre os dois: enunciação; diálogo?’’(p.18)

Entre as classes sociais que se destacam pelo isolamento da prática de ler, estão as classes mais populares e inferiores econômica e socialmente. São estas que na maior parte vêem a leitura como alternativa para o futuro, quase nunca para o questionamento, para a reflexão e compreensão da realidade. 
Portanto, ao colocarmos a base do processo de aprendizagem como fase em que se concentra os principais erros de ensino da leitura para crianças e adultos, estamos falando de uma realidade bastante comum no universo de grupos menos beneficiados na sociedade. 
Se na base da formação é o momento que a falha do ensino, do conhecimento e desinteresse pela leitura começa a se manifestar, é na mesma que se pode encontrar solução para um novo caminho, é nela que se deve trabalhar um novo formato de metodologia, educação e leitura. 
Sendo assim, a metodologia de ensino presente em quase todas as normas de escolas do país traz, quase sempre, problemas supostamente encobertos pela ideologia de que apostilas e métodos formais das escolas são as melhores formas para o aprendizado do aluno.
Para melhor compreensão do assunto estaremos focados, preferencialmente, na metodologia como único meio de aprender e ensinar crianças. São elas, na grande maioria, que ainda hoje estão submetidas a um processo de base e poder, em que fazem parte de um sistema de ensino controlado por uma linguagem e comunicação imprópria a elas.  
Mário A. Perini volta em Perspectivas Interdisciplinares a abordar os problemas da leitura que surgem com a inadequação do ensino. Dessa vez, dando destaque para a realidade da formação de crianças, o autor fala sobre a dificuldade que as mesmas apresentam em compreender o livro didático. 

“Sabemos que o material escrito que chega às mãos dos alunos se compõem essencialmente de textos didáticos. Trata-se de material que, de certa forma, apresenta para eles um interesse imediato, na medida em que lhes possibilita, em principio, melhorar seu desempenho escolar. No entanto, é singular o grau de desinteresse que os alunos mostram pelo livro didático. 
Parte desse desinteresse pode ser oriundo de causas gerais, que contribuem para baixar o atrativo de qualquer atividade encomendada pela escola. Não obstante, mesmo em vésperas de exames, quando o livro didático deveria ser o recurso principal a ser procurado, os alunos relutam em recorrer a ele. O que acontece, evidentemente, é que se sentem incapazes de compreendê-lo, dependem quase que exclusivamente de aulas expositivas, consultas ao professor ou a outras pessoas, exercícios e outras muletas didáticas”.. (p.81)  

Considerado os problemas advindos dos métodos de ensino e seus meandros, precisamos entender onde estão e quais são as alternativas de solução para desencadear o problema. De acordo com algumas propostas expressas em Pesquisas Interdisciplinares, o planejamento de formação dos livros didáticos e a interdisciplinaridade contribuem para uma nova realidade da educação. 
Trabalhar a metodologia junto ao livro didático ainda é possível nas escolas, desde que o conteúdo seja adequado à realidade da criança, às condições de aprendizado que ela apresenta e se interessa. Transformar esse processo, não é simplesmente facilitar o estudo para crianças, não é deixá-la escolher o que quer ou não estudar, mas beneficiar seu aprendizado de acordo com o contexto em que vive. 

 Entre as propostas de mudanças para um melhor ensino e aprendizado, está a questão dos livros não apresentarem – como o de Língua Portuguesa, por exemplo – preocupação com a alfabetização e compreensão dos textos. Na coletânea de Regina Zilberman e Ezequiel Theodoro da Silva, Mário A. Perini também discute a exigência dessa interdisciplinaridade. 

“Como conseqüências, temos que a responsabilidade de ensinar a leitura funcional é da escola como um todo, e não apenas da disciplina e do professor de Língua Portuguesa; e temos que os autores de livros didáticos de qualquer disciplina precisam sensibilizar-se para as exigências da função alfabetizadora de seus textos.’’ (p.82)  

Além dessa proposta veiculada à interdisciplinaridade de matéria e conteúdo, é preciso pensar também num formato novo e específico para cada fase do aprendendo. Não disponibilizar os desgastantes livros didáticos que acompanham os alunos durante anos, mas produzir um material adequado para cada série, para cada necessidade especifica do aluno. 

“Acredito que os textos deveriam ser graduados quanto à sua dificuldade de leitura, de modo que um texto de terceira série fosse significativamente mais simples do que um de oitava serie, ou um de nível universitário’’. (p.82) 

Através dessa adequação do ensino e da leitura, acredita-se que é possível formarmos pessoas que se interessam pela prática de ler como meio primordial para o conhecimento, para a informação necessária e contextualização da realidade. 
Defende-se também a idéia de que não somente as classes privilegiadas socialmente poderão usufruir da produção da escrita e dos conteúdos intermediados. A escrita e a leitura interferem, sempre, na condição educativa de uma nação, contribuindo para sua aquisição cultural e histórica. 

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